a gente se encontrou mais ou menos em setembro
e, desde lá,
um olho do mundo que
eu nunca tinha percebido
um olho do mundo,
um olho do mundo que estava dentro de mim
se abriu...
exu do povo de rua
exu do povo de rua
e a gente se entendia
se ensinava, se via uma na outra
tão diferentes
uma com um pouco demais
outra com muito pouco!
nas duas vontade
e fé de abrir caminhos
a gente quer mesmo
comércio
comer sim já que
tem fome que não passa
a de estômago, a de classe
a de cor
privilégio
que me faz arrastar pendurada
num arame farpado de uma fé
que não me deixa tocar a lama,
como não? se é lá que nasce toda vida...
a insistência por essa brancura
faz arder meus olhos astigmáticos demais
pra esse tipo de claridade
privilégio que me faz negar ancestralidade e,
se eu não me vejo,
nunca sinto cura
disso tudo que me rouba de mim
eu e ela
e o povo dela de rua
e o meu que não perdoa
o povo de rua
exu do povo de rua
e a gente se entendia
em gira em roda
em caminhada longa
e ela com 1 dia de resguardo
exu do povo de rua
e a gente se entendia
ela riscava o chão
eu também
desde minina
fazia altar com pedra e graveto
e nem sabia
ela agachava e conversava
e acocorada mesmo
dava de comer pras criança dela:
ana, vitor e
aquela efraim, nicole, agora, dalila
na barriga!
exu do povo de rua
e agora?
eu lembrando de você
me sustento!
laroyê!